I’m Still Here é falso documentário?!

Joaquin Phoenix surpreendeu todo o mundo quando anunciou que deixaria de ser ator para ir atrás de sua carreira como rapper. Fez uma aparição bizarra no programa Late Show with David Letterman, surgindo com o cabelo sujo e desgrenhado, barba grande, óculos escuros e mascando chiclete. Seu cunhado Casey Affleck, soube-se, estava documentando esse seu novo momento. Na época, já se falava que tudo não passaria de uma grande brincadeira, uma interpretação de Phoenix. I’m Still Here, exibido para jornalistas na manhã desta segunda-feira (6), fora de competição no 67º Festival de Veneza, comprova: sim, tudo não passava de um papel de Joaquin Phoenix (como o título já indica, aliás), o que não deixa de ser uma ideia engenhosa e corajosa.

O falso documentário começa com imagens de infância de Joaquin Phoenix pulando numa cachoeira e cantando e dançando com os irmãos, contrapostas a entrevistas em que ele mesmo se contradiz, por exemplo, na época de Johnny & June, dizendo que nunca tinha pego numa guitarra antes. Mas logo vem o anúncio, para um repórter de tapete vermelho, de que ele estava abandonando a carreira. A partir daí, seu comportamento fica cada vez mais estranho em eventos públicos. Em casa, ele parece um sujeito fora de controle, que maltrata os dois assistentes (ambos filmados em nu frontal, diferentemente do ator), cheira cocaína e é irresponsável. Apesar de estar atrás de um produtor para seu disco de rap, no caso, P. Diddy, ele se atrasa em uma hora para uma reunião preliminar com o rapper. Seus raps são uma piada, claro. Os shows que ele faz são sofríveis, obviamente.

Logo no início do filme, Joaquin Phoenix diz que quer mostrar como é realmente, daí o documentário. Como se trata de uma peça de ficção, I’m Still Here apenas joga mais fumaça sobre o ator, mas de certa forma acaba por mudar sua imagem. Visto como ator sério e profundo, aqui Phoenix mostra seu lado cômico. O personagem, porém, funciona mais fora da tela do que nela. Sua melhor performance é na entrevista a David Letterman, exibida na íntegra. No falso documentário, não dá para acreditar no protagonista, e ele pouco faz rir, ainda que, aqui e ali, haja cenas divertidas, principalmente quando ele contracena com outros atores, como Ben Stiller, P. Diddy e o stand-in de Danny DeVito num evento de caridade. Também são boas as colagens dos comentários malucos sobre a transformação de Joaquin Phoenix em programas de televisão. Mas I’m Still Here poderia ter uns 50 minutos a menos. A brincadeira vai longe demais e cansa, virando uma espécie de egotrip.

Na entrevista coletiva depois da exibição, o ator e diretor Casey Affleck (irmão de Ben) deu continuidade à brincadeira. Indagado como se sentia ao ver seu cunhado “nesse estado”, o ator e diretor disse “o filme é um retrato simpático dele”. “Ele é alguém que me deixou ver todos os diferentes aspectos de sua personalidade. Eu devia isso a ele e a mim para fazer tão bem quanto podia.” O diretor respondeu por que Joaquin Phoenix não compareceu à coletiva de imprensa. “Ele não está se escondendo de seu filme, acho que ele vai querer ajudar”, disse, acrescentando que o ator está em Veneza, mas que não achava que ele fosse comparecer à sessão de gala na tarde desta segunda.

Depois de algumas perguntas genéricas e respostas mais ainda, uma jornalista perguntou o que era real e o que não era. “Interessante que você pense isso. Há muita especulação porque não falei sobre o filme. Não tenho certeza como vou responder. Você viu o filme e há outros que não viram o filme, sou relutante de falar sobre cenas específicas porque vai influenciar as pessoas que ainda vão assistir.” Um outro repórter indagou sobre as acusações de que tudo não passava de uma fraude. “Como disse, sinceramente não quero influenciar a interpretação das pessoas. Não tem pegadinha, porque isso me faz pensar em Punk’d [programa de pegadinhas apresentado por Ashton Kutcher].”

Quando outra jornalista disse que estava curiosa para saber quanto as pessoas que contracenam com Joaquin Phoenix, como P. Diddy, sabiam sobre o documentário, Affleck respondeu: “Tenho certeza de que você está curiosa. Eu diria que minha experiência com Sean Combs foi muito positiva, ele parecia sensível e agradável, mas é um filme sobre Joaquin. Quando os outros aparecem é em reação a ele”.

Texto retirado do site ultimosegundo.ig.com.br